O presente de tia Dulce
Um dia recebemos a visita de tio Baltazar, irmão de minha mãe, e tia Dulce, vinte anos mais nova e que as más línguas diziam ter se casado por interesse. Nunca acreditei que fosse verdade porque meu tio sempre fora um homem de gosto requintado e de excelente condição física. Fazia algum tempo que não o via, mas ao revê-lo ratifiquei aquilo que acreditava: estava esplêndido aos cinquenta anos.
A chegada deles coincidiu com a plenitude da primavera, a cidade estava toda florida. Tia Dulce insistiu em comentar a beleza do caminho até a nossa casa. Os que chegavam eram recebidos no trevo de entrada por meia dúzia de flamboiãs e, nas ruas, acompanhados por ipês de todas as cores. Além de manacás, resedás e outras mais. Em nosso jardim as flores azuis da cerejeira, a árvore da felicidade, tinham desabrochado. Acho mesmo que ela nunca vira nada igual.
Não era apenas uma visita de cortesia, tio Baltazar viera a trabalho. Uma empresa queria montar naquela região um armazém de distribuição de secos e molhados e o contratara para um estudo de viabilidade.
Num primeiro momento pensou em ficar num hotel, mas o meu pai se sentiu ofendido e o “obrigou” a ficar lá em casa.
Minha tia era muita bonita e irresistivelmente meiga. Usava saltos altos para compensar a baixa estatura, o que a deixava ainda mais elegante. Encantou a todos com seu charme e provocou em mim uma profusão de sentimentos que me abobavam.
Com a timidez exacerbada por seus sorrisos frequentes tentava disfarçar minha admiração. Como se para dificultar o meu controle solicitava meus préstimos quando queria passear, desde que meu tio não fosse, é claro. Talvez porque não tivesse outra mulher para acompanhá-la, já que minha mãe saía para trabalhar também, ou por causa da minha idade: com quatorze anos não oferecia perigo para falatórios. O fato é que eu ansiava por esses momentos e às vezes desconfiava que ela os provocava para me agradar.
Na última semana não conseguia esconder minha tristeza. Andava cabisbaixo. Ela percebeu e me convidou para passear.
— Você está tão triste. É porque estou indo embora?
— Acho que nunca mais vou te ver.
— Não diga isso!
— Você vai voltar?
— Claro que sim. E, se não, você vai me visitar.
Tia Dulce estava mais carinhosa que de costume.
— O que quer de presente de despedida? Para que guarde como lembrança minha.
— Não sei…
— Escolha alguma coisa.
Encarei-a decidido.
— Qualquer coisa?
— Sim, pode pedir.
— Queria te ver pelada.
Ela arregalou os olhos, horrorizada.
— Não, isso não.
— Por favor!
— É muito arriscado. Imagine!
— Não fosse arriscado, deixaria?
Tia Dulce me olhou de um jeito estranho, pensativa.
— Nem pense nisso!
Não insisti e até me pareceu descabido aquele pedido.
No sábado, véspera da partida, meu tio teria que visitar um último estabelecimento e convidou meu pai para acompanhá-lo. Tia Dulce disse que iria junto para comprar algumas lembranças e aconteceu uma breve discussão entre eles. O clima ficou tenso. Meu tio alegou que ia a trabalho, ela que seria só uma carona. Jurou que seria rápida, que era pouca coisa. Foi tão esquisito que minha mãe olhou desconfiada para o papai, que sorriu para tranquilizá-la. Ficou acertado que iria. Como minha mãe não poderia ir, convidou-me.
Ninguém falou nada até chegarmos. O carro ficou no estacionamento, eles entraram e nós fomos às compras. Voltamos pouco depois, como prometido. Tia Dulce ficou carrancuda e resmungou ao não encontrá-los. Abriu o carro usando a própria chave. Ajeitamos os embrulhos no porta-malas e sentamos no banco de trás para esperar.
Depois de alguns minutos, arrisquei:
— E se eu tivesse pedido para transar com a senhora?
Encarou-me de um jeito intenso, um misto de surpresa e lascívia.
— Teria coragem?
— De pedir?
— De transar comigo.
— Claro!
Tia Dulce não se conteve e soltou uma risada contagiante.
— A senhora transaria comigo? — insisti.
— Deveria ter pedido antes para saber, agora não há o que fazer.
Vi o seu peito arfar e emendei:
— Posso ver a calcinha que está usando?
— O quê?!
Franziu a testa demonstrando espanto, mas em seguida olhou para os lados procurando por alguém. Cheguei a ouvir sua respiração que se avolumava.
— Não… Não pode.
Negava, mas, olhando para fora, começou a levantar o vestido até expor a sua intimidade. Vi a parte interna de suas coxas e a translúcida lingerie escarlate. Embasbacado e sem me conter, fui aproximando a mão daquele tesouro.
— Eles estão voltando!
Joguei-me na outra ponta do banco, o mais longe possível dela, a testa colada no vidro, sufocado.
Foram-se, então. O domingo depois das despedidas se arrastou. A ideia de que podia ter sido mais ousado me aniquilava.
À noite, quando fui preparar minha mochila para as aulas do dia seguinte, notei um embrulho estranho dentro dela. Reconheci o papel de presente que vi nas mãos de tia Dulce pela manhã. Ávido, rasguei-o sem nenhum cuidado e senti meu coração quase explodir ao ver a peça vermelha.